sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A Origem Cartujana


Não temos qualquer complexo nacionalista que evite referenciar que os nossos cavalos de Raça Lusitana, têm uma forte componente sanguínea de origem Cartujana. Muitas foram as Coudelarias portuguesas que utilizaram garanhões desta procedência que haviam sido importados pela Coudelaria Nacional. No que diz respeito há Coudelaria Lima Monteiro esta componente é bastante forte, pois aquele que foi o seu maior promotor e gestor durante muitos anos via nos cavalos Cartujanos, o objectivo da sua criação. Joaquim Lima Monteiro era apaixonado pelos cavalos Cartujanos, que definia como a linha mais antiga e pura de entre todas as que existiam no mundo . Os seus sucessores procuraram manter esta linha e nunca foi introduzido nenhuma garanhão que não tivesse uma forte componente desta estirpe de cavalos.
O nosso cavalo lusitano tem assim uma história de selecção muito antiga e curiosa que convém resumidamente realçar.
Os monges da Cartuja decidiram no ano de 1484 adquirir uma manada de éguas. Estas éguas foram referidas como éguas andaluzas. Durante os 326 anos, desde 1484 até 1810,os monjes seleccionaram e melhoraram os seus cavalos. Este facto perfeitamente singular, representa um importante factor de selecção criteriosa que ao por mais de três séculos perspectivou os mesmos objectivos sem qualquer influência externa.
Um facto histórico evitou o desaparecimento deste ininterrupto trabalho de selecção secular. Por sorte, D. Pedro Zapata Caro, amigo do prior da Cartuja, adquire uma ponta de éguas e sementais, sob proposta dos monjes, uns dias antes da chegada das tropas francesas a 30 de Janeiro daquele ano de 1810. Foi este facto que evitou a destruição completa da eguada cartujana . Os animais nessa altura passaram a ser ferrados com o «Ferro do Bocado ( Freio )» em substituição do «Ferro da Campândula» utilizado pelos Monjes. Por isso aos cavalos Cartujanos também se passaram a chamar de Zapatas ou Zapateros.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma aprendizagem natural na Família


Noventa e cinco anos separam as datas em que forma tiradas as fotografias apresentadas.

A de cima representa Francisco Lima Monteiro dando as primeiras lições a seu filho Joaquim.

Em baixo Mariana Lima Monteiro Andrade, sua trineta, com dois anos já à vontade a cavalo.

A apendizagem de montar a cavalo é uma coisa natural na famíla. Tal como andar, montar a cavalo e lidar com os cavalos, são coisas que acontecem naturalmente. Assim tem sido por mais de um século e ao longo de cinco gerações.
Os cavalos estão ali mesmo em nossa casa, eles têm de ser alimentados, tratados e montados. Todos nós somos educados nessa premissa e todos nós desde a mais tenra idade nos apaixonamos por eles. Eles começam por ser os nossos brinquedos e progressivamente montar a cavalo passa a ser a actividade em que nos sentimos mais à vontade, que sendo uma necessidade, não deixa nunca de ser um enorme prazer. Os nossos cavalos têm de ter uma funcionalidade, temos de ter a maior das sensibilidades, um empenhamento diário e também conhecimento, experiência e cultura equestre, para tentarmos com preserverança e paciência maximizar as potencialidades de cada poldro e de cada cavalo.

Tem sido assim ao longo das gerações e todos os membros da família têm contribuido para que assim tenha sido e para que continue a ser.

Só conhecendo muito bem todos os nossos poldros e poldras, só conhecendo as suas vocações, potencialidades ou limitações é que poderemos seleccionar com rigor e atinir os objectivos com que sonhamos. Produzir cavalos é simultaneamente um grande prazer e també um privilégio.

Viver esse prazer com intensidade e saber gozar esse privilégio é para nós uma forma de estar na vida. Quando vemos um cavalo nosso ganhar uma prova, ou avançar direito e corajoso para um toiro, ou ainda a executar correctamente e com brilho um exercicio de escola, sentimo-nos orgulhosos, mas o que nos transmite maior prazer é a recordação dos momentos que com ele passamos durante o seu desbaste e a sensação incrivel de foi útil e de que valeu a pena termos sido pacientes e compreensivos para com esse poldro.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Cavalos – Factor de Aproximação e Unidade


Os cavalos foram sempre na família Lima Monteiro um forte factor de aproximação e de união. O encontro de Joaquim Lima Monteiro, com Encarnação foi proporcionado precisamente pelos cavalos.
Joaquim era estudante da Faculdade de Direito em Coimbra, mas a sua grande paixão eram as coisas do campo, o gado bravo e os cavalos. Nas férias estudantis não desperdiçava o seu tempo e era na aprendizagem dos segredos e das técnicas de campo que dedicava o seu tempo. Também na aprendizagem e aperfeiçoamento equestre.
Desde 1887 data da Instalação da Coudelaria Nacional na Fonte Boa, ali mesmo no Vale de Santarém, que o Leopoldo Nunes Chaves era ali Equitador Principal.
O Chaves era um grande amigo de Francisco Lima Monteiro e foi o Instrutor de seu filho Joaquim.
Em 1918 o Chaves criou um Picadeiro em Lisboa, na rua de Salitre. Era nessa época um dos Picadeiros da moda, onde as meninas Lisboetas completavam a sua educação e aprendiam a montar a cavalo.
Nas férias grandes o Joaquim ia com frequência para Lisboa, instalava-se em casa do Chaves e ajudava-o nas suas tarefas lá no Picadeiro. Foi lá que conheceu as irmãs Villalonga e em particular Encarnação, por quem logo se enamorou.
O encontro de Joaquim Lima Monteiro e de Encarnação, aconteceu motivado pelos cavalos e o seu casamento realizou-se em 1923.
Encarnação mulher muito activa, foi sempre um apoio imprescindível para o Lavrador ribatejano, teve uma vida longa pois só veio a falecer em 1996, com 93 anos de idade.
Desde a morte de seu marido em 1976, que foi ela a proprietária e principal representante da Ganadaria e da Coudelaria.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

1940 - Outro ano de Referência


Trata-se da abertura de um novo Livro de Registo de Reprodutoras, que resulta de uma viragem mais objectiva da produção de cavalos da Coudelaria.
Na década dos anos vinte e trinta, acontecera uma diminuição da procura de cavalos. Foi a fase da total substituição do cavalo pela máquina, que originou uma nova procura de funcionalidades para o cavalo. Mas a partir da década de quarenta a equitação começou a desenvolver-se em Portugal. A Tauromaquia passava a contribuir para o aparecimento de um mercado importante para os produtores. Agora, também as exigências também eram maiores.
Joaquim Lima Monteiro fez uma opção objectivando o cavalo que queria produzir.
A opção foi pelo cavalo “ Cartujano”, que em Portugal então se denominava como cavalo Peninsular.
Comprou éguas ao Lavrador do Cartaxo, Francisco Ribeiro da Costa e passou a utilizar exclusivamente Garanhões da Fonte Boa e de José Infante da Câmara, com a origem da raça seleccionada pelos Monjes da Cartuja.
Esta é a base que ainda hoje se mantém na Coudelaria, no que respeita à produção de cavalos Lusitanos. Até hoje, não foi nunca utilizado nenhum Garanhão Lusitano, que não tivesse esta origem Cartujana.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

1921-Uma referência simbólica


Com frequência aparece a referência ao ano de 1921, como o ano da fundação da Coudelaria.

Há uma lógica nesta referência. Foi o ano em que morreu Francisco Lima Monteiro.

Seu filho Joaquim e sua filha Maria Eugénia constituíram então uma Sociedade, a que deram o nome de Sociedade Lima Monteiro. Fizeram-se inventários e novos registos. Assim é nesse ano que aparecem os primeiros registos oficiais do “ Ferro “ utilizado para marcar as éguas e os cavalos e também o gado bovino, nomeadamente o da ganadaria brava.

O ano de 1921, não é uma referência de antiguidade, mas sim da regularização do formalismo. A data da fundação da Coudelaria deve ser considerada aquela em que Francisco Lima Monteiro começou a seleccionar com rigor as suas éguas e fazer os seus registos, portanto os primeiros anos da década de noventa do século XIX.
A Sociedade Agrícola Lima Monteiro, não durou muitos anos. Os dois irmãos acabaram por fazer partilhas e a Coudelaria e a Ganadaria, ficaram para Joaquim Lima Monteiro.
Foi a partir de então que passou a ser feita uma selecção criteriosa dos animais lusitanos e com Joaquim Lima Monteiro a Coudelaria atingiu um enorme prestígio. Agora já não se produzia apenas para os serviços da Casa Agrícola, mas também para o mercado, expresso através da “ Remonta “ do Exército e da Guarda Republicana e pela progressiva procura de Cavaleiros Tauromáquicos e de outros Cavaleiros amadores.
Importa enaltecer e referenciar o apoio que dois homens que na época trabalhavam na Fonte Boa e que deram um apoio enorme e testemunharam sempre uma amizade à família e à própria Coudelaria.

O Mestre Leopoldo Nunes Chaves, Equitador Principal da Fonte Boa e o José da Silva, escriturário e que mais tarde foi até à sua reforma o principal responsável pelos Livros Genealógicos, que na altura estavam sediados na Associação Central de Agricultura e na Associação de Raças Selectas.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ferra dos poldros/as de 2007


Na passada quinta-feira fizemos a "Ferra" dos 12 poldros/poldras nascidos no ano passado. O destaque fotografico vai para uma poldrinha lusitana, a cuja simpatia não podemos ficar indiferentes.

Os Objectivos do Fundador


Francisco Lima Monteiro tinha como principal prioridade na produção de gado cavalar a obtenção de animais para as diversas tarefas da sua Casa Agricola. Em particular para as lides de campo decorrentes da criação de gado. As preocupações comerciais foram assim secundarias nos primeiros anos da Coudelaria.

Procurava o cavalo funcional que garantisse a permanente utilização nas diversas lides da sua ganadaria brava.

Naqueles tempos do final do século XIX, o transporte individual e de carga, era feito utilizando cavalos e assim para quem tinha que diariamente fazer umas largas dezenas de quilometros diariamente, era essencial ter cavalos proprios e de confiança. Note-se que naquele tempo a sua Casa Agricola tinha mais de quinze campinos e que todos eles deveriam ter pelo menos dois cavalos. Estes desenvolviam a sua actividade em varias propriedades localizadas entre o campo da Azambuja e o Vale de Santarém.

O cavalo era assim determinante para a Casa Agricola Lima Monteiro e a comercialização dos produtos foi uma consequência natural.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

As Narrações e Postagens


Este Blog não será um Blog estático, nem tão pouco um Blog promocional.

Ele vai ser a narração progressiva da História da Coudelaria. A História de uma família que ao longo das gerações se tem didicado à produção de cavalos em Portugal. Família para a qual os cavalos representaram e representam, um papel muito importante na união familiar, nas opções e gostos de vida e têm proporcionado momentos de inegualável prazer e proporcionado momentos de convívio e consolidação de amizades fantásticos.

Ele é redigido pelo actual proprietário da Coudelaria, que é bisneto do seu fundador.

Irão sendo publicados artigos, que serão classificados :

a) História da Coudelaria

b) Histórias do autor com cavalos

c) Equitação e Arte Equestre

d) Actividades da Coudelaria

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Francisco Lima Monteiro


Conduzindo gado junto à Ponte da Asseca no Vale de Santarém

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fundação


A antiguidade não é só por si uma garantia de qualidade. Mas ela representa uma elevada determinação na procura desse objectivo.
Feito, num trabalho sistemático de selecção ao longo de diversas gerações.
Representa também uma outra realidade, que entre nós, na nossa família, perdurou sempre, uma paixão que se foi transmitindo de pais para filhos. A paixão pelos cavalos.
Nunca foi uma paixão platónica, pois em todas as gerações não só gostávamos de utilizar, de montar e arranjar os nossos cavalos, como também sempre nos orgulhamos de os ver utilizados por bons cavaleiros.
A Equitação foi sempre na nossa família, como que uma premissa de educação e através dela poderíamos ter a sensibilidade suficiente, para no futuro aspirarmos a decidir sobre os critérios de selecção dos nossos animais reprodutores.

Tudo começou na década de oitenta do século XIX. Tudo começou por iniciativa de meu bisavô, Francisco Lima Monteiro.
Ele era um jovem Lavrador do Vale de Santarém e por essa época comprou de trespasse a «Lavoura» de Pedro Abreu. Nesse negócio estava incluída uma manada de cerca de noventa éguas. Imagine-se …cerca de noventa éguas de ventre.
Francisco Lima Monteiro, fez uma selecção desse enorme número de animais e procurou encontrar no mercado, cavalos que servissem como Garanhões. Foi nessa altura que passou a fazer o “Registo” sistemático dos seus animais e de seus filhos.
Foi o início da Coudelaria.
Francisco Lima Monteiro morreu cedo e seu filho mais velho foi quem lhe sucedeu na gestão da sua Casa Agrícola.
Joaquim Lima Monteiro era então um jovem estudante de Coimbra. Ele estava no último ano do seu curso de Direito. Mas a sua vocação eram as questões da terra e dedicou-se exclusivamente às coisas da Lavoura, desde a morte prematura de seu pai.
O primeiro “registo” oficial do Ferro da Coudelaria Lima Monteiro é precisamente desta época, de 1921 e reflecte uma nova dinâmica que Joaquim Lima Monteiro deu à sua Coudelaria.

José J. Lima Monteiro Andrade