terça-feira, 16 de junho de 2009

Equitação Irracional, uma limitação da Produção Nacional.

Recentemente dois já antigos clientes da Coudelaria, deixaram-me uma mensagem idêntica, que não é muito abonatória para a produção de cavalos nacional.
Dizia-me uma francesa que é uma belíssima cavaleira e noutra ocasião a mesma coisa um espanhol com uma profunda experiência e cultura equestre.
“ Só se podem comprar poldros da Raça Lusitana, pois os cavalos montados, já estão todos para trás da mão”…”precipitam nos andamentos e sem cadência e amplitude, não há equitação possível”.
Tentei reagir a esta afirmação, com os meus dois interlocutores.
“Nem sempre é assim, o problema é que muitas vezes esses cavalos provêm de negociantes e não directamente das Coudelarias…e há muitas Coudelarias…”
Mas os meus dois interlocutores tinham o seu julgamento confirmado em inúmeros exemplos e tive de aceitar que havia alguma verdade no julgamento que faziam.
Falavam que as excepções apenas confirmavam a regra e pela sua experiência a regra eram as enormes dificuldades para voltar a dar confiança e franqueza aos cavalos provindos de Portugal, todo o trabalho que isso dava e todo o tempo que demorava.

Nessas duas conversas acabamos por estar unidos á volta da qualidade indiscutível dos cavalos lusitanos, mas também sobre a medíocre qualidade e pouca cultura equestre, duma boa parte dos profissionais de equitação portugueses e do nível geral da equitação tradicional portuguesa.

Há muitos anos que defendo e pratico, que a fase de Desbaste de um cavalo é determinante para qualquer cavalo, para a sua funcionalidade futura e é durante essa fase que se podem potenciar ou limitar com gravidade, as suas potencialidades.
Porém continuamos a assistir a um certo desprezo, mesmo ao nível das melhores Coudelarias por esta fase tão importante do ensino de um cavalo.
O desbaste é assim como que considerado uma fase menor do ensino e que pode ser entregue a qualquer aspirante a equitador.
Nada mais errado e nada pode ser tão prejudicial a um cavalo.

As questões que estes meus amigos levantam são muito importantes para a produção equina portuguesa.
São porém questões que se ligam com a mentalidade dominante dos nossos produtores, dos nossos cavaleiros utilizadores, dos nossos profissionais de equitação.
É também uma questão cultural, sobretudo de deficit cultural.
Tivemos um Mestre dos Mestres, mas infelizmente Nuno de Oliveira deixou “escola” em todo o mundo e é pouco seguido, conhecido e até reconhecido pelos cavaleiros portugueses.
Ainda uma questão de objectivos de produção…e muito mais poderia ser feito neste domínio, quer pelos organismos oficiais, quer pela Associação dos Produtores da Raça Puro Sangue Lusitano.
A funcionalidade ainda é preterida relativamente ao modelo.

Infelizmente a produção de cavalos lusitanos em Portugal não tem sido analisada como uma importante alternativa económica, um “cluster” como agora se diz, nem suficientemente defendida por quem tem essa incumbência.

domingo, 31 de maio de 2009

Olé. Filho de Hamã.


É sempre com grande satisfação, que recebemos notícias sobre os nossos produtos.
São estímulos importantes que consolidam o desejo de criar cavalos de qualidade.
Quando essas notícias vêm acompanhadas de fotografias, permitem-nos avaliar com mais evidência, o orgulho e o prazer, que aqueles que nos compraram este ou aquele cavalo, sentem e isso é o mais importante para uma Coudelaria.
A última destas notícias veio de Espanha através do rejoneador Martin Porras, que depois de ver este blogue nos enviou por mail uma simpática mensagem e expressou a sua dedicação e reconhecimento para com o “Olé”.
Olé nº 70, filho de Diva 16 e de Hamã 50, foi vendido ainda era um poldro de três anos.
Transformou-se progressivamente na estrela mais vibrante da quadra de Martin Porras.
Muitos foram os funcionais de Hamã.
Hamã morreu este ano e para nós vai ser difícil encontrar um “garanhão” à sua altura, pelas qualidades incríveis com que marcava a generalidade de seus filhos.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mercado Português-uma perversa mensagem



Tenho muito respeito pelo gosto de cada um.
Mas faz-me um pouco de impressão esta “nova moda”, que oiço com frequência, de estar na moda a procura de “cavalos castanhos”.
Não é pelo facto da cor dominante dos nossos cavalos Lusitanos ser o Ruço e não o Castanho. Também produzimos cavalos cruzados e nesses, o castanho é mais frequente.
O que me faz impressão, é as pessoas darem a prioridade à cor de um cavalo, na sua escolha.
Um cavalo é muito mais do que um simples animal de estimação que exibimos com orgulho.
Também respeito esses, mas há todos os outros, que gostam de utilizar os seus cavalos, nesta ou naquela funcionalidade de lazer, de espectáculo ou de desporto.
Estes, deverão sempre dar prioridade à funcionalidade do cavalo…às suas aptidões para esta ou aquela actividade.
O que me faz confusão, não é o gosto das pessoas, mas sim a tendência que se está a generalizar de fazer confundir, o cavalo castanho = cavalo bom.
Todos os que têm alguma cultura equestre e alguma experiência hípica sabem que esta confusão, não é verdadeira e não tem nada de lógica.
Sem querer ofender quem quer que seja, ela é apenas sinónimo de ignorância.
Infelizmente muitas modas em Portugal, derivam precisamente desta ignorância ou então de interesses de alguns, que se julgam mais espertos.
Em cada raça de cavalos, podemos encontrar parâmetros genéricos de morfologia e de aptidão, que dão vocações e funcionalidades para que estão mais indicados.
Também aqui teremos de ter cuidados na apreciação e não ser demasiado radicais, pois já vimos muitas excepções pela negativa e pela positiva. No entanto, para determinadas funcionalidades obviamente que se deverá procurar cavalos dentro das raças que foram seleccionadas particularmente para essa função.
Não passa pela cabeça de ninguém, procurar outra raça que não seja o Puro Sangue Inglês, se pretende entrar no mundo das corridas de cavalos. Mas nesse mundo tão competitivo ninguém lhe passa pela cabeça comprar um cavalo, dando prioridade à cor da pelagem e não à sua ascendência ou resultados.
Para quem gosta de cavalos, para quem gosta de montar a cavalo, para quem procura ser competitivo a cavalo, há muitos outros factores que contam muito mais do que a cor na escolha de um cavalo. Admito porém como lógico e normal, que se junte o útil ao agradável, ou seja, que à funcionalidade do cavalo se junte o seu gosto pessoal.
Quando me dizem… gostaria de ter um cavalo bom, mas castanho, já não me transmite qualquer impressão negativa.
Entre a “funcionalidade” e a “beleza” eu optaria sempre pela primeira.
Mas para mim, a cor, não é nunca o principal factor de apreciação da sua beleza.
Se todos os produtores de cavalos lusitanos resolvessem agora seguir esta nova tendência de mercado ( cavalo castanho), o património genético seria totalmente adulterado ao ponto de se poder considerar que a genuinidade da raça estaria irremediavelmente perdida.
Produzir cavalos é procurar produzir qualidade na funcionalidade, tanto melhor se objectivar também beleza.
Milton era ruço, era lindo e foi enorme…Caramulo era castanho, horrível e foi enorme.
O mesmo se poderia dizer de Ferrolho e de Herói.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Prazer máximo de um Criador de Cavalos




Para um criador de cavalos não há maior satisfação possível …saber que um seu cavalo tem sucesso e que o seu novo dono está satisfeito. Recebi uma mensagem de Marlen Rudebusch, uma alemã, que muito me sensibilizou e me trouxe grande satisfação.
Seu pai comprara-me um cavalo há nove anos…o Mestre a quem chamávamos o “Pilhas” pela genica que demonstrava quando era poldro, durante o desbaste.
Não resisto em publicar parte desta tão simpática mensagem, como agradecimento publico a esta jovem alemã.

HelloMr.JoaquimLimaMonteiro, today, I have found your e-mailadress in the world wide web. My father bought the stallion Mestre from you, 9years ago. He was 6 years old. He is a wonderful horse. His father is Gravito and his mother Bifana. I ride him at many Shows in Germany. He is of great talent and he has strong nerves. 3 years ago, the veterinarian must to abscise his left eye, but he didn´t lost anything of his strong nerves. I ride with the Garrocha at the Shows. He is very multisided and good natured.
I am so happy with him.

Publico também duas fotografias de Marlen montando o “Mestre” e outra do “Mestre” montado por mim quando tinha apenas 4 anos.

Este sentimento que os criadores têm de orgulho e satisfação por verem os seus clientes felizes com os seus cavalos, leva-me a dar um conselho a todos os que pretendem adquirir cavalos … visitem as Coudelarias e procurem aí os cavalos que melhor se adaptem ás vossas necessidades ou desejos. Esta atitude representará uma segurança adicional, também melhores preços e não comprarão nunca «gato por lebre».


A Satisfaç~

segunda-feira, 3 de março de 2008

"Malhinhas" um bom cavalo


Foram muitos os cavalos de toureio criados pela Coudelaria Lima Monteiro.
Mas o mais conhecido foi sem duvida o Malhinhas, porque tinha efectivamente algumas particularidades invulgares de franqueza, de coragem e muita habilidade toureira. Mas também porque ele era um dos protagonistas daquela célebre quadra de cavalos que ajudou o jovem João Moura e impor-se como a principal figura da Tauromaquia nacional e também em Espanha. O “Malhinhas”, que tinha o nome inicial de registo como poldro de “Jaleco”, não seria uma estampa como modelo de cavalo, mas quem o viu nas arenas impressionava vivamente pela forma como correspondia às exigências de João Moura e entrava por terrenos incríveis. Ele proporcionou muitos êxitos e ficou gravado na memória de muitos, pois efectivamente transmitia uma emoção à lide como poucos cavalos o fizeram . Foi ainda o meu avô, Joaquim Lima Monteiro quem o vendeu em poldro, junto com outros ao José Sabino Gonçalves. Creio que andou por várias mãos antes de chegar á quadra de João Moura. Esta situação hoje em dia não seria possível, pois há já alguns anos que fazemos questão de desbastar os nossos produtos, mas naquela época não era assim e alguns cavalos eram vendidos antes mesmo de serem desbastados. O Malhinhas depois de retirado foi utilizado como progenitor, primeiro na Coudelaria de Vaz Torres e depois na de Lima Duarte. Ele é um fino produto da linha de cavalos em que o sangue Cartujano é dominante.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A Origem Cartujana


Não temos qualquer complexo nacionalista que evite referenciar que os nossos cavalos de Raça Lusitana, têm uma forte componente sanguínea de origem Cartujana. Muitas foram as Coudelarias portuguesas que utilizaram garanhões desta procedência que haviam sido importados pela Coudelaria Nacional. No que diz respeito há Coudelaria Lima Monteiro esta componente é bastante forte, pois aquele que foi o seu maior promotor e gestor durante muitos anos via nos cavalos Cartujanos, o objectivo da sua criação. Joaquim Lima Monteiro era apaixonado pelos cavalos Cartujanos, que definia como a linha mais antiga e pura de entre todas as que existiam no mundo . Os seus sucessores procuraram manter esta linha e nunca foi introduzido nenhuma garanhão que não tivesse uma forte componente desta estirpe de cavalos.
O nosso cavalo lusitano tem assim uma história de selecção muito antiga e curiosa que convém resumidamente realçar.
Os monges da Cartuja decidiram no ano de 1484 adquirir uma manada de éguas. Estas éguas foram referidas como éguas andaluzas. Durante os 326 anos, desde 1484 até 1810,os monjes seleccionaram e melhoraram os seus cavalos. Este facto perfeitamente singular, representa um importante factor de selecção criteriosa que ao por mais de três séculos perspectivou os mesmos objectivos sem qualquer influência externa.
Um facto histórico evitou o desaparecimento deste ininterrupto trabalho de selecção secular. Por sorte, D. Pedro Zapata Caro, amigo do prior da Cartuja, adquire uma ponta de éguas e sementais, sob proposta dos monjes, uns dias antes da chegada das tropas francesas a 30 de Janeiro daquele ano de 1810. Foi este facto que evitou a destruição completa da eguada cartujana . Os animais nessa altura passaram a ser ferrados com o «Ferro do Bocado ( Freio )» em substituição do «Ferro da Campândula» utilizado pelos Monjes. Por isso aos cavalos Cartujanos também se passaram a chamar de Zapatas ou Zapateros.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma aprendizagem natural na Família


Noventa e cinco anos separam as datas em que forma tiradas as fotografias apresentadas.

A de cima representa Francisco Lima Monteiro dando as primeiras lições a seu filho Joaquim.

Em baixo Mariana Lima Monteiro Andrade, sua trineta, com dois anos já à vontade a cavalo.

A apendizagem de montar a cavalo é uma coisa natural na famíla. Tal como andar, montar a cavalo e lidar com os cavalos, são coisas que acontecem naturalmente. Assim tem sido por mais de um século e ao longo de cinco gerações.
Os cavalos estão ali mesmo em nossa casa, eles têm de ser alimentados, tratados e montados. Todos nós somos educados nessa premissa e todos nós desde a mais tenra idade nos apaixonamos por eles. Eles começam por ser os nossos brinquedos e progressivamente montar a cavalo passa a ser a actividade em que nos sentimos mais à vontade, que sendo uma necessidade, não deixa nunca de ser um enorme prazer. Os nossos cavalos têm de ter uma funcionalidade, temos de ter a maior das sensibilidades, um empenhamento diário e também conhecimento, experiência e cultura equestre, para tentarmos com preserverança e paciência maximizar as potencialidades de cada poldro e de cada cavalo.

Tem sido assim ao longo das gerações e todos os membros da família têm contribuido para que assim tenha sido e para que continue a ser.

Só conhecendo muito bem todos os nossos poldros e poldras, só conhecendo as suas vocações, potencialidades ou limitações é que poderemos seleccionar com rigor e atinir os objectivos com que sonhamos. Produzir cavalos é simultaneamente um grande prazer e també um privilégio.

Viver esse prazer com intensidade e saber gozar esse privilégio é para nós uma forma de estar na vida. Quando vemos um cavalo nosso ganhar uma prova, ou avançar direito e corajoso para um toiro, ou ainda a executar correctamente e com brilho um exercicio de escola, sentimo-nos orgulhosos, mas o que nos transmite maior prazer é a recordação dos momentos que com ele passamos durante o seu desbaste e a sensação incrivel de foi útil e de que valeu a pena termos sido pacientes e compreensivos para com esse poldro.